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quarta-feira

Para Lênon

Sem vinho, sem pães, sem luz
Quem precisa disso para fabricar milagres?
Sem óculos, sem sexo, sem nome
A identidade impressa em algum lugar do sangue?
Sem música, sem filhos, sem visitas hoje
Meu trabalho é com as palavras de quem?
Eu não consigo me concentrar no que você está dizendo
Eu só consigo pressagiar a temperatura do seu corpo
Eu não consigo desviar os olhos do seu peito nem da sua virilha
Eu só quero e só não quero que você vá embora logo
Sem amídalas, sem seio, sem próstata
Estes pedaços que a doença come,
para onde vão depois que o médico tira?
Sem jeito, sem coragem, sem força
Para ter força de levantar o garfo e conseguir comer
é preciso ter comido para ter força de levantar o garfo
Sem bala, sem pólvora, sem tiros
Caramba, que espécie de revolução é esta?
Sem microfone, sem internet, sem telefone
Porra, que diabos de revolução é essa?
Sem orgasmo, sem dor, sem parto
Toda revolução traz dentro de si os genes do gozo e da foice
Sem passagem, sem saída, sem dentes
Não há por que sorrir no fim do túnel

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