"(...) em sociedades diferentes você tem concepções diferentes de amor. Na nossa sociedade, a concepção de amor é o resultado de todo um processo social que se desencadeia no fim da Idade Média com o surgimento da burguesia, o nascimento da família, digamos tal como nós a conhecemos hoje em dia, do individualismo moderno. O amor tende a se exprimir essencialmente na família atômica, conjugal. Não é tanto para fazer uma historiologia da idéia de amor, mas compreender que sentido se pode dar contemporaneamente...
Volto mais ao Freud outra vez. Freud acaba por montar a sua, a sua metapsicologia fazendo com que toda ela parta de dois princípios fundamentais, não da psique humana, mas da vida em geral: o princípio de Eros e o princípio de Tanathos, onde Eros, o amor e Tanathos, a morte. Se passa como se toda forma de vida fosse guiada por duas tendências opostas, uma segundo a qual a vida tende a se multiplicar, a se organizar harmonicamente e a se expandir, enquanto que Tanathos é a tendência de autoaniquilação. Estão em constante combate. Expressão dessa confusão entre Tanathos e Eros nós encontramos em dois belíssimos versos de Drummond: "Sob a vontade de existir, outra vontade mais pura. Vontade de anular a criatura." Vontade de existir, vontade de permanecer do ser, vontade de se integrar com outrem por debaixo do princípio guerreiro de agressividade, de destruição do outro mas sobretudo de destruição de si mesmo. A idéia de amor significa essencialmente a integração, a auto-afirmação, essencialmente isso, mas não ás custas de outrem. "
transcrição de fala do filósofo Bento Prado Júnior em entrevista para nós no documentário Poético "Nu Intante" - direção de Daniela Gomes 2003
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