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segunda-feira

Mudhoney em São Carlos!


Os órfãos do grunge sentem-se assim desde a morte de Kurt Cobain em 94.
O Nirvana fez um show histórico no Brasil no Hollywood Rock de 91. Entre outras tantas coisas, Kurt cuspiu nas câmeras da rede de TV brasileira que cobria o evento, deixando os "VJ´s" e repórteres sem ter o que dizer.
Perto desta época o Metallica fez um show no Palmeiras e o Oswaldo Montenegro comentou na TV que achava absurdo todos aqueles jovens vestidos iguaizinhos, todos de preto num calor infernal. Alternância de gerações.
Uma amiga minha foi ver o Nirvana. Foi de preto e com uma blusa de flanela amarrada na cintura. Voltou falando mal da banda, que Kurt estava louco demais e nem conseguia cantar direito. Fiquei com uma raiva abissal desta menina. Ela não gostava realmente da banda.
Nunca tive grana pra comprar CD´s (hoje existem alternativas, na época era difícil e caro) só acompanhava o que era grátis, ou seja, o que tocava no rádio ou aparecia em jornais e revistas. Lembro com clareza da primeira vez que ouvi Smells Like Teen Spirit, logo que começou a fazer sucesso aqui no Brasil, tratava-se de um sentimento visceral traduzido em música. Aquilo sempre me soou como uma fúria que eu também sentia e sinto ainda, uma fúria de destruir o que não presta. Só fui assistir ao tal show criticado pela garota sortuda e estúpida muitos anos depois na casa de uns amigos numa gravação e me perguntava: Por que eu não estava lá ao invés dela?



Justamente junto desses mesmos amigos ouvi Mudhoney pela primeira vez. Era um churrasco, os móveis da sala foram afastados e alguém colocou Touch me I'm Sick pra tocar. Era o mesmo sentimento de fúria contida que vem até a garganta num berro. A gente pulava na sala e gritava igual uns doidos e colocava a mesma música várias vezes pra tocar. Foi daí que comecei a me interessar por outras bandas de Seattle além do Nirvana.


Daí li Barulho do André Barcinski, li Mais pesado que o céu do Charles R. Cross, apesar de achar este segundo cheio de psicologismos demais, tentando explicar o por quê de Kurt ter se matado... e isso é meio idiota de se fazer. Basta ouvir a música, qualquer fã entende o porquê.

Acho Control um puta filme porque é muito simples, não inventa história não faz piadas idiotas como em A Festa Nunca Termina, e não tenta explicar por que Ian Curtis se matou. Basta ouvir Joy Division, porra!

Afinal um dia fomos a uma festa do Garagem lá em São Paulo, o Barcinski tava tocando e pediram pra mandar um Mudhoney. Touch me I´m sick soando tão alto quanto nossos ouvidos podiam suportar, parecia sempre a primeira vez. Acabou a música e ficamos fazendo reverência para o André e jurando que quando o Mudhoney viesse tocar de novo no Brasil a gente tinha que estar presente e junto.

Um dia, um grupo de meninos (dois deles foram meus alunos) formou uma banda cover do Nirvana, o Dharmanet. Ver moleques de 17 anos tocando com tanta fúria me deixou tão contente que deixei de me importar com garotas e garotos estúpidos que ouvem sons por "modinha". A vida é cheia de som e fúria pra algumas pessoas, algumas ouvem música, outras consomem música. E há quem ouça e consuma.


Neste fim de semana, graças ao Maurício Martucci (fiquei devendo uma reverência a ele) que chamou os caras pro Festival Contato, vimos tocar de graça os últimos moicanos, digo, grunges (se é que este rótulo realmente ainda define o som o barulhento e dilacerante) tocando além de tudo sons do novo disco. Alguns ruídos lembravam Sonic Youth e o Mark Arm deu umas reboladas tal como Iggy Pop. Meus amigos do dia do Garagem e do dia do churrasco estavam quase todos lá.


No meio da roda que se formou na frente... bem, tinha de tudo. Umas 4 meninas incluindo eu e a Kemilly, dois carinhas que pareciam sósias do Sid Vicious, alguém de moicano, um cara que parecia Jesus, pessoas gordas e magras, brancas e pretas, altas e baixas, todas na mesma fúria e alegria e transe que só o rock´n roll proporciona. Tudo cheirava ao espírito de Seattle.

fotos do show em São Carlos, tiradas por mim


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