A gente não. A gente era mais complicado que isso, que tudo isso. A gente queria ser mais que novela, queria ser filme -não qualquer filme- um noir com luz bem dura. Eu me enfeitava pra você e para todos os outros. Os outros notavam, você passava batido.
Você queria filosofar sobre a gente e eu queria te arrancar pedaços com os dentes.
Daí de repente eu era tão frágil que você sentia pena e eu te odiava por isso. E você não me mandava flores. Eu te escrevia páginas e páginas e tenho certeza de que você jogou tudo fora, ainda bem.
Você dizia tudo que sentia e eu queria que fosse mentira. Não parecia filme, mesmo assim a gente gostava que fosse complicado e intenso.
Você me mandou embora, disse que era o último beijo e era inverno e chovia.
Eu tinha sangrado tanto que apareci depois de dois dias, ainda pálida.
Você guardou o livro e me olhou com desejo alguns anos depois. Daí parecia tanto um filme que quebrava o encanto se eu te tocasse.
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