Em 89, quando caiu o Muro de Berlim, eu tinha 12 anos e estudava em Pirituba.
Nossa professora de geografia era bem jovem e falava muito de geopolítica, embora nossa maior geopolítica fosse burlar a vigilância da escola, pular o muro nas aulas de que não gostávamos e ir brincar na rua, ou simplesmente conversar (tudo de essencial que se tem pra conversar com 12 anos). Nossas fugas não se davam na aula desta professora de geografia, nem nas da professora de história (também bem jovem) que nos fez ler "Revolução dos Bichos" e entre outras coisas me fez escrever com 12 anos um texto defendendo o socialismo utópico (com unhas e dentes) e atacando o liberalismo.(!!!)
A professora de geografia fazia críticas a alguns livros do Melhem Adas e nos incentivava a ler um tal de Demétrio Magnoli. Na verdade, eu nunca tinha prestado atenção nenhuma até então, nos nomes de autores de outros livros que não fossem literatura infanto juvenil. Ela dizia que a gente nunca iria esquecer e que poderíamos contar pros nossos filhos que vimos a queda do Muro de Berlim. Embora o significado disso me escapasse, a frase ficou na minha cabeça. Sem dúvida estas professoras contribuíram pra eu ter vontade de ser professora.
No ano passado, na educação à distância cursando pedagogia, fiz uma redação que intitulei: "Por uma escola sem muros", um texto que não recebeu nota máxima das professoras "virtuais", mas de mim sim e que ainda não consegui recuperar das garras da burocracia acadêmica.
As burocracias são assim. Devolvem um silêncio de meses aos brados e pedras que lhes lançamos e é assim que mantém o controle sobre nós.
Mas desde então, o mundo e eu mudamos muito: decidi abandonar a academia, decidi abandonar a pedagogia, decidi deixar de ser professora em escolas (quaisquer que sejam), entendi o que a professora disse sobre o Muro de Berlim, decidi ir à Alemanha no ano que vem, desisti do socialismo utópico, desisti de mudar o mundo e voltei a esta escola onde estudava. A árvore que eu plantei com minha turma na quarta série ainda está lá (quase todas as árvores ainda estão lá) e agora eu sei até os nomes só de olhar algumas. Tinha grafites nas paredes. Mas os muros... Estavam mais altos, altos demais para uma criança de 12 anos poder pular. E então, chorei.
Acho que chorei por entender que agora são tempos de muros mais altos para crianças. Acho que chorei porque cada árvore que ainda está lá, me deu uma alegria e uma esperança de que elas estarão ainda lá quando eu não estiver, fazendo sombra a outras crianças que talvez, em vez de pular, derrubem os muros.
Nossa professora de geografia era bem jovem e falava muito de geopolítica, embora nossa maior geopolítica fosse burlar a vigilância da escola, pular o muro nas aulas de que não gostávamos e ir brincar na rua, ou simplesmente conversar (tudo de essencial que se tem pra conversar com 12 anos). Nossas fugas não se davam na aula desta professora de geografia, nem nas da professora de história (também bem jovem) que nos fez ler "Revolução dos Bichos" e entre outras coisas me fez escrever com 12 anos um texto defendendo o socialismo utópico (com unhas e dentes) e atacando o liberalismo.(!!!)
A professora de geografia fazia críticas a alguns livros do Melhem Adas e nos incentivava a ler um tal de Demétrio Magnoli. Na verdade, eu nunca tinha prestado atenção nenhuma até então, nos nomes de autores de outros livros que não fossem literatura infanto juvenil. Ela dizia que a gente nunca iria esquecer e que poderíamos contar pros nossos filhos que vimos a queda do Muro de Berlim. Embora o significado disso me escapasse, a frase ficou na minha cabeça. Sem dúvida estas professoras contribuíram pra eu ter vontade de ser professora.
No ano passado, na educação à distância cursando pedagogia, fiz uma redação que intitulei: "Por uma escola sem muros", um texto que não recebeu nota máxima das professoras "virtuais", mas de mim sim e que ainda não consegui recuperar das garras da burocracia acadêmica.
As burocracias são assim. Devolvem um silêncio de meses aos brados e pedras que lhes lançamos e é assim que mantém o controle sobre nós.
Mas desde então, o mundo e eu mudamos muito: decidi abandonar a academia, decidi abandonar a pedagogia, decidi deixar de ser professora em escolas (quaisquer que sejam), entendi o que a professora disse sobre o Muro de Berlim, decidi ir à Alemanha no ano que vem, desisti do socialismo utópico, desisti de mudar o mundo e voltei a esta escola onde estudava. A árvore que eu plantei com minha turma na quarta série ainda está lá (quase todas as árvores ainda estão lá) e agora eu sei até os nomes só de olhar algumas. Tinha grafites nas paredes. Mas os muros... Estavam mais altos, altos demais para uma criança de 12 anos poder pular. E então, chorei.
Acho que chorei por entender que agora são tempos de muros mais altos para crianças. Acho que chorei porque cada árvore que ainda está lá, me deu uma alegria e uma esperança de que elas estarão ainda lá quando eu não estiver, fazendo sombra a outras crianças que talvez, em vez de pular, derrubem os muros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário