Queria ser uma mulher alta e de peitos grandes. Queria ser famosa, rica, linda, não me casar, ter muitos namorados e um carro cor- de- rosa. Talvez um fusca.
Eu tinha 8 anos. Escrevi essas coisas na minha redação escolar, tirando a parte dos peitos. Estudava numa escola pública daí nunca me mandaram à psicóloga, só mais tarde, aos 13, por outros motivos. A parte que podia ser considerada mais esquisita nesta história era eu não querer me casar, fato que era justificável porque minha mãe era solteira numa época em que isso era reprovável. Contudo, eu escrevia bem (importante colocar o verbo no passado!) e minha mãe era chamada na escola pra ouvir elogios dos professores de português e alertas dos professores de matemática.
Acabei desencanando dos peitos grandes e de ser rica e linda – apesar de sempre me lembrar da Agrado em “Todo sobre mi madre” dizendo:... a gente deve ser a mulher que sempre sonhou. Mas gosto de mim pelada (tirando quando minha barriga está grande demais), ainda não sei dirigir e tive muitos namorados. Essa história de ser alta e ter muitos namorados significava poder para uma criatura que brincava de Susi. Aliás minha Susi era até parecida comigo: cabelo liso marrom e magrela. Só que ela tinha o olho grande e azul e umas mechas loiras.
Se eu fosse escrever novamente a tal redação, talvez chegasse à conclusão de que seria bom fazer análise. Ainda não me tornei a mulher que sonhei, em grande parte por culpa da minha caretice.
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