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sexta-feira

The Fall por Juninho


Com mais de 20 anos de carreira e com uma quantidade absurda de discos lançados. O Fall sem dúvida foi uma das bandas mais originais e desenacanadas do rock inglês. Mark Smith teve a idéia de formar a banda nos meados de 1977, com a intenção de fazer algo realmente estranho, fora dos padrões da emergente New Wave e ainda mais cru que o Punk. Alcançar esse feito na efervescente Manchester do final dos anos 70 não era fácil e Mark não se importava com isso.
Conseguir voluntários para essa árdua tarefa foi complicado. Com 18 anos, Mark trabalhava nas docas de Manchester e durante as horas livres escrevia canções e ficava atrás de candidatos para sua banda. A primeira formação do Fall durou apenas um EP. Mark acabou tendo sérias divergências com os outros membros, pois não se rendia à New Wave e mantinha arduamente a sua intenção de fazer algo realmente fora do normal. Na verdade Mark Smith não era contra os padrões vigentes, já que tudo foi fruto do Punk que estava revolucionando a cena musical inglesa e pregava que as pessoas pudessem fazer o que bem entendessem em termos musicais: arrume uns instrumentos, monte uma banda com os amigos e toque, mesmo que vocês não saibam como tocar os malditos instrumentos!
O mais engraçado de tudo era que os próprios punks não entendiam qual era a de Mark: “Intelectuais não gostavam de nós pois parecíamos colegiais. Metaleiros não gostavam pois não tocávamos heavy. E os punks não gostavam da gente pois não usávamos alfinetes nas roupas ...”. Adicionado a isto, nenhuma gravadora queria lançar o Fall, mas chegaram a lançar alguns álbuns até que foram contratados pela Beggars Banquet.
A primeira fase do Fall é a mais experimental e crua da banda. Baterias secas, ruídos e influências de Velvet Underground e Can reinavam em suas músicas, adicionado ao vocal totalmente estranho e inconfundível de Mark Smith. De fato, na maioria das vezes quem ouve Fall pela primeira vez se surpreende mais com o vocal das músicas: Mark Smith canta de uma maneira muito “desengonçada” e às vezes nos dá a impressão de que canta bêbado. Apesar dessas características estarem presentes em todos os trabalhos da banda, os primeiros álbuns são os que podem soar mais estranhos para quem não está acostumado à sonoridade do Fall. Uma das músicas que se destacam dessa fase é How I wrote Elastic Man (vinte anos depois o Elastica gravaria How we wrote Elastica Man com a participação de Mark nos vocais).
O Fall também é bastante conhecido por estar constantemente mudando de formação, sendo comandado sempre pelo vocalista, que faz questão de que os novos membros não tenham conhecimento musical e que aprendam dentro do grupo. Certamente uma das mudanças mais significativas que ocorreram na musicalidade do Fall foi a entrada de Brix Smith em 83. Mark a conheceu em uma turnê americana, em poucos meses se casaram e mais tarde ela começou a participar dos álbuns.
Com a entrada na banda, a esposa de Mark conseguiu o que muitos não tinham conseguido fazer antes: adicionar uma sonoridade mais pop à banda, e logo nas primeiras músicas isso já foi notado. C.R.E.E.P, o primeiro single feito depois da entrada de Brix – e uma das melhores músicas do Fall - surpreendeu os fãs devido aos teclados e backing vocals extremamente pop de Brix, juntamente com beats bem dançantes e o já tradicional vocal de Mark. Os álbuns The Franz Experiment e Bend Sinister lançados no Brasil na década de 80 são uma ótima amostra dessa fase e um detalhe interessante deste último álbum é o fato dele ter sido gravado diretamente em um tape sem ser mixado, proporcionando uma sonoridade mais crua e forte nas músicas.
O Fall continua na ativa até hoje e é impressionante a quantidade de discos que eles produzem, sendo difícil para o fã iniciante decidir-se por qual álbum ouvir. Mas para quem quer conhecer mais sobre essa excelente banda vale a pena conseguir a coletânea A Sides (felizmente lançada no Brasil) que contém algumas músicas do início da carreira, e a maioria da fase 84-90. Para fechar, vale ressaltar que por mais que Mr. Mark E. Smith consiga fazer com que o Fall seja tão original e criativo, por ironia do destino as duas músicas que mais fizeram sucesso são covers – Mr. Pharmacist é do Other Half e a maravilhosa Victoria é dos Kinks.
(texto escrito por Juninho, meu brother Osvaldo, quando planejávamos ter um fanzine em papel chamado No Fun, em meados de dois mil e uns)

Para quem quer ver O Clipe de Mr Pharmacist

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