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terça-feira

De como carregar flores para um arranjo

Com as aulas de artes aprendeu: quando quiser estudar estética, comece observando a natureza.
Tinha dado para estudar estética e compor arranjos com flores. Não flores caras destas que se compra, mas quaisquer flores colhidas pelo caminho.
Era uma prática antiga das mulheres da família. Quando viam uma flor bonita, destas que a gente vem passando pensando em fumaça e elas se atravessam no caminho... pronto! Colhiam e levavam para casa. Lembrava de vizinhas trocando flores pelo muro e da vó batendo em casa de gente que nem conhecia pra perguntar o nome de uma flor. A vó tinha nome de flor e lembrava muita coisa.
Tinha dado para compor arranjos mas lembrava os nomes das flores. Certo é que para estudar estética não é exigido da pessoa que tenha muita memória, apenas um pouco de poesia nos olhos que se deve carregar nem muito secos, nem muito úmidos.
Para compor um arranjo, colha-se pela manhã, é melhor. As flores estão descansadas e já tomaram banho de orvalho. Isso era receita da mãe, que colhia também folhas e tudo mais que achasse bonito.
Também tinha formulado suas receitas mediante seus estudos aplicados de estética. Para compor um arranjo destes não se devia pensar em nada, apenas seguir o caminho de mansinho, sem pressa e sem sono. Então, se os tempos não fossem muito difíceis, elas iam aparecendo: pequeninas, grandes, vistosas, discretas, macias, espinhentas... Daí era colhê-las, algo que exigia das mãos leveza e destreza a um tempo, mas antes disso, era preciso escolhê-las. Não se pode ter pressa para saber qual flor está pronta para dar um passeio por outras paisagens. Não escolher somente as mais belas e não teimar em colher as inalcançáveis.
Tendo já colhido algumas, vinha a parte mais difícil: carregá-las.
Para carregar flores para compor um arranjo era preciso ter o corpo na temperatura adequada. Muito calor ou muita pressão nas mãos podiam ser fatais com criaturas mais delicadas. Carregar flores exige um entendimento estético de si. Pisar devagarinho, ter firmeza sem dureza e saber que se carrega algo vivo. É preciso entender que flores são efêmeras como nós.
Tinha dado para estudar estética a partir das flores e do seu próprio corpo porque tinha certeza de que não haveria para ela outra maneira de aprender.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oie... estou passando aqui para dizer que indiquei seu blog para o "Olha que blog maneiro"

passa lá no meu blog e veja as regras para participar!

Bjos

saudade do meu chubiruzinho!!!!