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segunda-feira

José Custódio

O boteco de frente pro campo de futebol, entre as montanhas de Minas. Um descampado de grama verdinha com um céu sem limite descendo até as árvores mais altas no horizonte. Queijo e cachaça da melhor qualidade. Chamou minha atenção um senhor negro que falava sozinho. Seu nome era Custódio. Logo me disseram que ele bebia tanto que ninguém entendia o que ele falava. Lá pelas tantas sentei-me ao seu lado. De pronto, entendi tudo que ele me dizia. Contou-me da mulher que mais amou em sua vida que falecera anos antes. Sua vida não tinha mais para onde, nem para quê. Falou-me bastante dela, parecia que isso fazia a saudade recuar uns passos, mas logo ela avançava tirando lágrimas dos olhos lustrosos e sem foco de Custódio.
Os filhos, parentes, ninguém punha fé na dor daquele homem. Depois de tanto tempo? Parecia-lhes mera justificativa para o alcoolismo, ou tinham vergonha porque isso parecia era fraqueza dele. Então Custódio olhou bem dentro dos meus olhos e pediu que rezasse por ele. Parece que minha oração teria mais serventia que as suas. Eu não tinha mais o costume de fazer preces antes de dormir, mas prometi.
Pensava sempre nele, mas a vida de volta à cidade me fez esquecer minha promessa de rezar por Custódio.
Quando soube da morte daquele homem, não pude deixar de lembrar a nossa conversa. Perdi o único retrato que tinha dele.
Foi um dos homens mais verdadeiros com quem tive o privilégio de conversar.

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