Ouvi este belíssimo soneto do Boca do Inferno num show do José Miguel Wisnik. Hoje descobri que a Mônica Salmaso também o canta no seu disco "Alma lírica brasileira". Segundo Wisnik a poesia tem 300 anos.
Na oração, que desaterra … a terra,
Quer Deus que a quem está o cuidado … dado,
Pregue que a vida é emprestado … estado,
Mistérios mil que desenterra … enterra.
Quem não cuida de si, que é terra, … erra,
Que o alto Rei, por afamado … amado,
É quem lhe assiste ao desvelado … lado,
Da morte ao ar não desaferra, … aferra.
Quem do mundo a mortal loucura … cura,
A vontade de Deus sagrada … agrada
Firmar-lhe a vida em atadura … dura.
Ó voz zelosa, que dobrada … brada,
Já sei que a flor da formosura, … usura,
Será no fim dessa jornada … nada.
(Mortal Loucura - Gregório de Matos)
Com licença do Gregório e dos séculos que nos separam, quis fazer minha própria versão que timidamente batizo de Loucura Errante:
O medo da mediocridade ... idade,
Me faz rezar agora a Deus ... adeus,
E a luz firmada em olhos teus ... ateus,
Traz alguma felicidade ... cidade,
Porém de longe se adivinha ... vinha,
Que meu instinto me separa ... para,
Da boca que beija e escarra ... cara,
E a santa vê da capelinha ... linha,
E me costura no seu manto ... santo,
E sou apenas um bordado ... dado,
E com tal zelo e sempre e tanto ... canto,
Busco harmonia no sagrado ... agrado,
Vencer a morte agora enquanto ... espanto,
O tempo mesmo é desvelado ... lado.
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