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sábado

Berlim - Control C

Viajei para outro país pela primeira vez no ano passado. O país escolhido foi a Alemanha. Escolhido talvez não seja uma boa palavra, sorteado cabe melhor.
O primeiro país que resolvi conhecer foi o meu. Até entrar na universidade eu mal tinha ido até a praia. "Viajar é pra rico". Turismo é pra quem tem pelo menos tempo livre. Na universidade descobri o incrível mundo da carona e dos tais encontros e congressos: conheci Minas Gerais, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Maranhão e Paraná. Tantas viagens pelo chão e dentro dos parques de diversões da cabeça, poderiam ser a explicação para eu nunca ter me formado. Depois da universidade viajei até o Pará de ônibus e a minha primeira viagem de avião na vida foi para o Acre.
Daí decidi que minha primeira viagem para fora do Brasil seria rumo à Argentina, ver um show do Pixies com uma amiga, mas já dizia Bezerra da Silva "bolso de otário é nas costas virado de boca pra baixo"; tomei um calote da companhia que se dizia representante da TAM pela internet. Somando o que perdi de dinheiro nesta ocasião, com o que juntei tempos depois quando decidi ir pra Alemanha, mas emprestei a um amigo viciado em pedra, mais o que juntei pra viajar pra Pernambuco com minha mãe, mas perdi pra um conhecido de um amigo alcólatra que trabalhava na TAM, tudo isso somado, com juros e correção, deve dar o tanto que gastei no ano passado para conhecer Berlim e Colônia. E, na verdade, se fosse pra somar quanto custaria oficialmente sem carona nem hospedagens alternativas, todas as viagens que fiz pelo Brasil, capaz que fosse bem próximo deste mesmo valor.
Mas deu que de repente tive uma noite de insônia e conversa pela internet com uma amiga e sonhamos com Berlim. Ela mais que eu. Literalmente ela sonhara com as ruas, as paisagens da cidade antes de pisar lá. Eu o que sabia da Alemanha até então era meia dúzia de filmes, algumas peças de teatro e três palavras em alemão, das quais eu não tinha muita certeza sobre a pronúncia.
E eis que estou no avião atravessando o oceano. Tomei todo vinho que pude, tentei dormir, pratiquei posturas de alongamento tanto quanto pude dentro do restrito espaço do meu acento e o oceano não acabava nunca de ser atravessado. Deu tempo de pensar nas caravelas e em todos os filmes com desastres de avião que eu conhecia.
Ano passado eu andava muito decidida, resolvi não me apaixonar no começo do ano, mas falhei. Como o rapaz não quis namorar comigo, casar, nem sair pelo mundo fazendo música e teatro pra crianças, decidi que estava namorando um outro moço que gostava de mim faz tempo. Decidi namorar este moço em agosto e minha viagem foi em setembro. Então meu namorado oficial e esta 'paixonite' de ano novo, me acompanharam a Berlim, mas precisei chegar lá e tomar o primeiro porre de cerveja alemã numa noite de versos íntimos, conversando muito abertamente sobre relacionamentos com os meus melhores amigos pra descobrir que na verdade eu não gostava do moço que eu decidi que estava namorando, mas do outro por quem tinha decidido não me apaixonar nunca mais.
E esta é só uma parte da história. Moral de parte da história: eu queria, como uma alemã (ou como imaginava que deveria ser uma alemã)... queria ter o controle daquilo que sinto, mas bastou chegar no estrangeiro pra começar a querer perder o controle de tudo.
"She lost control".
Again

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