Páginas

segunda-feira

Trancar não é tratar

Lourdes passou metade da vida trancada e a outra metade tratando de internos do Pinel em Pirituba.
Crianças não podiam entrar no Hospital, então eu só fui conhecer como era lá dentro este ano quando precisei requisitar um documento. É bonito por dentro tanto quanto se podia ver de fora.
Minha memória não apaga uma imagem de um surto que ela teve. Eu devia ter uns quatro anos. Todo mundo em casa acordou. Ela tomava banho com detergente de cozinha. Maria Jose tentou tirá-la de lá. Ela ficou agressiva. Ouço sons de uma luta no corredor da casa. Já no hospital, vejo-a amarrada numa maca, não lembro dos gritos dela, só que lhe dão uma injeção que vai fazendo seu corpo mexer mais devagar até seus olhos fecharem. Meu tio riu não sei por quê o que fez acender no meu peito infantil uma chama de ódio legítimo. Fui perdoar já adulta, mas ainda doi.
Tudo isso deixa cicatriz, dessas que movem a gente para um tempo em que isso não aconteça de novo jamais.
#lutaantimanicomial #saudemental #DiaNacionaldeLutaAntimanicomial #manicomiosnuncamais #pinel

Nenhum comentário: