De todas as formas ela estava sozinha
De todas as formas ela queria estar sozinha
Sua força era areia levada pelo vento, banhada pelos mares
na ampulheta do mundo
De todas as formas, ela sempre esteve sozinha
De todas as formas ela nunca esteve sozinha
Ao seu lado andavam mães e mulheres em cujo ventre nunca
floresceu raiz
Mulheres cujo ventre foi violado por bichos
Ao seu lado estavam homens cujo corpo fora violado por
ferros
Ao seu lado estavam crianças que não tiveram a chance de
voltar para a escola
Ao seu lado estavam crianças que não tiveram a chance de ser
crianças
cujo corpo fora violado tantas vezes que só lhes restava desespero
Ao seu lado estavam guerreiros cujo sangue evaporara em
nuvens densas
De todas as formas, por todas as eras desde tempos sem
início, ela tinha a seu lado uma fonte de beber árvores que dançaram com ela em todo momento
de desespero e alegria
Ela não tinha medo de morrer sozinha conhecia desde tempos
sem início este encontro
conhecia desde tempo sem início um vale onde lavar os pés
encharcados de memória
Um corpo pouco são mas seu
Um corpo denso demais para ser replicado
Um corpo etéreo demais para ser falso
Desde tempos sem início ela estava sozinha juntando fios até
formar cabelos, juntando fios até formar cabeça, juntando fios até tecer
pescoço e serpentear os nomes das
coisas.
Uma tessitura infinda de dioramas-pele rabiscando
mandrágoras inteiras na garganta das galáxias
Ao seu lado caminhava uma nação sozinha
Sozinha, uma nação de pé para assistir atenta cada movimento
estrondoso e litúrgico de um pequeno germe
Uma nação sozinha imensa
Uma ode se ouvia baixinho, mandando fazer, mandando tirar
Gritos acordaram os pensamentos de uma estrela guia e ela
parou congelada e olhou ao redor
O que viu, contou somente a um ente seco que chorou tanto a
ponto de minar água de novo para que outros povos pudessem se banhar.
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