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quarta-feira

Lauro Pontes

Sem dinheiro. Fim de ano e a gente resolve fazer mais uma festa com pinga. Foi boa, lembro de ter dançado muito e acordei na minha cama não sei como. Minha cama era alta e eu fui dormir bem alta também. Na real fui acordada pelo casal ao lado, quanto mais se esforçavam pra sussurrar, mais nítido eu ouvia. Aparentemente acabavam de chegar e estavam piores que eu que tinha dormido um pouco. O dia já entrando pela janela aberta por causa do calor. Tentei voltar a dormir, quase consegui, mas fui acordada novamente, desta vez um amigo meu que abriu a porta de sopetão, me sacudiu e anunciou: “Só vim te trazer um presente, uma surpresa!” - Entra você pelo quarto de sorriso fresco, gestos esguios, ... será que estou dormindo? Dentro de poucos segundos você está na minha cama, estou acordada e já não me importo nem um pouco com as outras pessoas no quarto. O dia entra límpido pela janela, sobe o sol devagarinho, me lembro num repente o que eu gostava em você, acho que era seu atrevimento.
_Você lembra daquela festa que a gente se encontrou no fim da noite e você tinha bebido pra caramba?
_Não. Fim de noite, beber pra caramba... nada esclarecedor.
_Então, eu não entendi direito o que estava acontecendo mas você tava puta comigo e disse pra eu ir embora...
_Ixe, acho que lembrei!
_... daí eu não fui, você ficou furiosa e me deu um soco na cara.
_Peraí, não lembrei não. Eu te dei um soco?
_De direita bem dado.
Dia claro. A gente conversa abraçados. Começo a me lembrar o que eu detestava em você, acho que era seu atrevimento.
_E pelo menos o soco doeu?
_Pra caralho.
_Então, beleza.

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