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domingo

Máximo Gorki e suas universidades

Só em duas coisas venho mantendo disciplina neste janeiro: ler literatura e anotar diariamente meus sonhos.
Os sonhos estão me levando a pesquisas.
As leituras trouxeram novamente os russos à minha cabeceira. Comprei de presente de aniversário para mim há dois anos, o livro de Máximo Gorki que só agora estou lendo, "Minhas Universidades".
Colhi de lá a frase que se segue:

"Bastante cedo compreendi que é a resistência ao meio que cria o homem."

E mais algumas passagens:

"O amor e a fome governam o mundo."

"Para uma moça, a honra é uma fortuna, mas para ti é apenas uma entrevista. Um boi é honesto porque lhe basta um feixe de feno."

"... a leitura de Adam Smith não me entusiasmava; os princípios fundamentais da ciência econômica cedo se me tornaram familiares: eu assimilara-os diretamente, tinha-os gravados na mente e, a meu ver, não valia a pena escrever obra tão volumosa com palavras tão difíceis, sobre assunto tão claro para quem esgota suas forças a assegurar o bem estar e o conforto de 'um senhor que não não lhe é nada'"

Este livro é o último de uma trilogia autobiográfica de Gorki. Precedem-no "Infância" e "Ganhando meu pão", os quais não li. A edição que tenho em mãos, adquirida num sebo, tem tradução de Paulo Rodrigues, editado pela Livraria Exposição do Livro e não contém nenhuma referência do ano da edição embora a gramática seja obsoleta e haja alguns erros como troca de nomes de personagens, confusão de gênero, entre outros. A única referência de data no meu livro é a assinatura do último que o teve em sua estante, seguida de uma anotação que faz supor que foi adquirido em agosto de 1964.
Máximo Gorki (não sei qual é afinal a grafia correta, com acento no "a", no "o" ou em ambos?) faz aparecer diante de nós sua vida às margens do rio Volga em meio a mujiques, ladrões, estudantes, mulheres (não há senão referências leves a elas) e principalmente livros. Faz crer que são os livros, as universidades às quais ele se refere, pois o que o move de um canto a outro é poder ler.
Realiza os trabalhos mais diversos de padeiro a estivador, mas sempre em companhia dos livros, sem contudo situar-se socialmente nem como estudante nem como rude trabalhador iletrado. A atmosfera permanente de tédio perscruta-o como uma sombra. Angustiado tenta suicidar-se com um tiro no peito que acaba por perfurar um dos pulmões e nos conta tudo isso como quem fala a respeito do que comprou na feira, de uma maneira direta, objetiva, clara e crua, tal como só Gorki é capaz de narrar.

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