Páginas

quinta-feira

Esperança do amor...

A esperança do amor
Primeiro de braços abertos
Coração escancarado
A mercê de qualquer voz
que murmure suave
Ou qualquer hálito
fresco como erva
Ou qualquer pele
tecida no mesmo fio
A espera do amor
que tem ânsia
cansa
grita
desespera
Depois de tanto esperar
acha que encontrou
Vem aquele paraíso
com cheiro de velas e flores
feito morte pelo avesso
E frio dentro da barriga
da espinha
Até que fica provado
que o encontro ainda não
Vem aquele desencanto
como quem tá se afogando
entrando em todo buraco
uma vontade de chorar
uma vontade de poesia
pra compensar a tristeza
poesia pelo avesso
poesia em desespero
poesia que apela
se arrasta feito um cabelo
grande num tapete macio
pra passar a humilhação do desamor
A esperança do amor
pode virar desespero tão grande
humilhação tão grande
quando se engana assim
que pode até dar em choque
dar em velas e flores
num cemitério de pedras
Mas se não der fica aguada
amuada, aluada
sem cor, sem cheiro, sem nada
.
Até que um dia abra os braços
com o coração desconfiado
desconfiança e amor
não cabem num só pedaço
Um sorriso amarelado
Um girassol amarelo
Tecido no fio da espera
E o amor de novo se engana
Cansa grita
adoece
Mas depois deita de barriga pra cima
Fica esperando remédio
tem ganas de entortar a espinha
tem ganas de pisar em flores
tem ganas de roer as unhas
O amor cansa de esperar e errar
Resolve ir dormir um pouco
Então o corpo sai solto pelo mundo
Sem procurar nada
Sem esperar nada
Sem poesia nas mãos
Sem memória de alecrim
Aí às vezes acontece
de acordar o amor
do outro.

Um comentário:

Daniela S. disse...

Quando li este texto em voz alta no Festival de Apartamento, parece que teve mais sentido.
Creio que este texto só presta para performance.