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sexta-feira


Papel para escrever para ser palpável.
Conheci uma moça de olhos claros. Era esguia e doce demais e seus estudos versejavam sobre profecias. O muro de sua casa era baixo naquele tempo e Campinas parecia colocada no caminho da gente de propósito para encher o coração de destinos e as linhas das mãos de rasuras.
Pois a moça disse que chegaria um tempo em que seria raro quem escrevesse a mão. Tive um sentimento embrulhado, que nem quando na beira do roçado minha vó disse que chegaria um tempo em que as sementes seriam feitas para dar planta, mas não fruto e haveria muita fome.
Conheci uma mulher de olhos escuros, nariz redondo, rosto moreno, fumava feito homem e dava para uma sereia de calças. Suas leituras miravam um horizonte desenhado numa tal de ficção científica feminista.
Fiquei pensando no tempo em que todos os profetas encarnaram mulheres, nos ventres que pariram armas em vez de gente, quando a voz das pessoas deixou de sair porque não precisava mais e o instinto deixou de ser medicado.

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