Há 41 anos
eu nascia
E – quem diria -
que tão esquálida
vingaria?
Mamãe me contou
Com tato
Que nasci
Miúda feito rato
Como vim
antes do tempo
Incubadora
foi alento
Pois vinguei.
Vim gay
E cresci
Desabrochei
Sinuosa
Esguia
feito serpente
me movia
De rato a serpente
um passo
E foi motivo
de alegria
Lembro o primeiro cão:
Doguinho
O primeiro beijo:
Num show dos Titãs
A primeira carona:
De volta da praia
A primeira moça que disse:
Você se move como uma bailarina
A primeira viagem ao estrangeiro,
sem levar Camus na bagagem.
(…)
A primeira vez num palco?
Lembro bem.
Ele se chamava Willian
Tinha 6 anos e deveria escolher alguém para dançar com ele
Uma coreografia da pré-escola
Sobre a boneca Emília.
Prometi ao meu anjo da guarda
dezenas de “Pai Nosso”(s) se ele me escolhesse.
E ele me escolheu.
Mas a coreografia não aconteceu. Não paguei a promessa.
Mas ele me escolheu.
Depois eu decidi que iria fazer cinema
Queria deixar o palco para lá
Mas a arena livre das ruas
Me chamava e eu ia, plena!
O primeiro carnaval
de odalisca aos 8
O primeiro namorado
só aos 18
A menarca
os monarcas chatos
Nunca quis ser princesa
Nem usar saltos
Eu nasci foi no verão
no carnaval
filha de paraíba
com pernambucana
mearrespeite
não sou qualquer fulana
mulher macho
menina
sou magra não sou fraca
cangaceira-bailarina
afro-gueixa
Me deixa!
Brasileira de fé
Muié
Artista
escrevendo história no ar
Pra desman-XamaR
Meu ventre gera
Minha mente gera
Meu peito gera
A gestação
contra a gestão
minha tal resiliência
minha tal liberdade
Minha TAO religião?
pois não: budista-macumbeira
Me solta que hoje é terça-feira
E o carnaval mal começou!
Nenhum comentário:
Postar um comentário