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domingo

Tem espelhos na sua cicatriz

Uma mulher se aproxima de mim
Tem espelhos planos em alguma parte da alma dela
Chega perto e me mostra uma ferida que não fechou
A ferida dela é dura como rocha
Cicatrizou ainda quente e seu aspecto é de um líquido frio
Mas ao ser tocada, a ferida é dura
Não se derrama, não se abre de novo
Dura
Concentro minha atenção por um instante nos horizontes que brotam da cabeça da mulher em forma de cabelos
Madeixas-horizontes infinitas pendem nos ombros da mulher
Tem espelhos côncavos em alguma parte da coluna dela
Sua ferida é convexa
E dura
Cicatrizou quente
Seu aspecto é de um machado fluido
A mulher se escora na outra perna e me olha
Parece fazer uma pergunta mas não entendo sua língua
Firmo o olhar para examinar a ferida
E o espelho turva


Bate um vento e os cabelos-horizontes voam para longe.

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