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terça-feira

prosaterapia

Escrever é um gesto de intimidade extrema? Acho que sim. Explico: terapia da escrita. Não sei exatamente qual é o meu diagnóstico, mas pratico.

Há cerca de um mês saiu no Estadão uma crítica do livro de um cara que tem uma porção de fobias. Escrever o livro, ajudou-o a superar um pouco seus medos e, dizia o cara, esperava que o livro ajudasse outras pessoas com o mesmo problema. Acho que nunca em minha vida escrevi nada para ajudar ninguém senão eu mesma, ou pretendia exorcizar certas coisas que não digo, ou pretendia atrair atenção.

Ser filha única me fez escrever diários e fazer fanzines, mas o fato de produzir textos com alguma regularidade desde os 13 anos de idade não tornou melhor o que escrevo. Escrever frequentemente é um exercício necessário mas aprimorar a técnica exige um pouco mais de esforço, disciplina e estudo. Tal como praticar um esporte.

Não, nunca escrevi por esporte. Ler sim. Li por esporte um tempão. Li por fuga. Já li por curiosidade, por identificação, por obrigação, por teimosia, por treino, para conhecer, para esquecer, para ficar num determinado estado de pensamento, para dizer que li... E ainda falta ler tanta coisa que tem hora que bate um desespero, uma ansiedade!

Gosto de alguns autores, vejamos: Machado de Assis, Moacir Scliar, Manoel de Barros (para citar alguns com “M”), J.D. Salinger, Charles Bukowski, Allen Ginsberg (para citar alguns malucos), Clarice Lispector e Hilda Hirst, Patativa do Assaré e João Cabral de Melo Neto. Na verdade, excetuando Patativa, faz um tempão que não leio nenhum deles. Talvez porque as leituras técnicas ou por obrigação de trabalho estejam me absorvendo tempo (não tanto quanto deveriam absorver-me), decidi investir nisso de escrever mais prosa, fazer crônicas, tentar arranhar um continho e tals.

Se das poucas coisas que faço bem é escrever, é melhor praticar antes que atrofie. E olha que já enferrujei bastante! Esse negócio de responder e-mail rapidinho, não mandar mais carta (que delícia escrever a mão!), ficar fazendo poema, diário e falando gíria “até a tampa”– embora em sonhos eu não use gírias. Não que me lembre! - acaba botando defeito e obstáculo na hora de encarar a folha em branco.

Nunca acho que tenho coisas suficientemente interessantes ou criativas a dizer para os outros. Sempre escrevi para mim. Ser filha única me fez atriz de monólogos para mim mesma. Credo! Sai de mim eu-comigo!

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